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Ser negro no país das maravilhas.

Ser Negro no Brasil é uma coisa complicada. Alias, complicadíssima!
O estudante Alcides do Nascimento Lins era negro. Filho de uma catadora de lixo, nascido numa comunidade paupérrima. Em 2007 Alcides assombrou o mundinho acadêmico pernambucano ao ser o primeiro colocado oriundo das escolas publicas no vestibular para UFPE. Cursava biomedicina, morreu no ultimo sábado, vitimado por uma bala de arma de fogo.
O reitor da universidade, Amaro Lins, lamentou a morte do rapaz. “Que seja um exemplo para que todos nós possamos nos empenhar para mudar esse país e dar oportunidade a milhões de Alcides que estão espalhados por todos os recantos, para que eles não venham a ter um fim trágico como esse".


A fala de nosso digníssimo reitor é carregada de simbolismos, trocada em miúdos fica mais ou menos assim:
No Brasil existem muitos negros, mais gente negra do que gente branca. O numero dos que são capazes, como Alcides foi, pode até ser contado aos milhões, mas a perspectiva é a de que morram vitima da violência caso os “reitores” não lhes promovam oportunidades.
Nos Estados Unidos existe uma grande polarização entre negros e brancos, mas este ambiente deixa muito claro para qualquer negro capaz, que se ele quiser ir longe não poderá somar aos seus próprios esforços o "empenho" dos reitores brancos.

No Brasil o racismo é velado e ambíguo. Negros que se destacam como Pelé passam a ser brancos. Ou todas as portas que se abrem para Pelé abrem-se também para qualquer negro?

Nilton Santos ou Milton Santos?

Conversando com um amigo sobre o sonho perseguido por 10 entre 10 garotos brasileiros durante a infância, de ser jogador de futebol, acabei pegando um exemplo contrario, um gênio negro chamado Milton Santos. Antes que eu pudesse terminar de falar ele começou a rir e me corrigiu “Quem te disse que Nilton Santos é negro?”

Nilton Santos nem é negro e nem gênio. Gênio mesmo é o professor doutor Milton Santos (Milton de Almeida Santos ou Milton Almeida dos Santos), que nasceu em Brotas de Macaúbas, no interior da Bahia, no dia 03 de Maio de 1926. Geógrafo e livre pensador brasileiro, homem amoroso, afável, fino, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias atuais, é pensar, coragem que sempre teve. Doutor honoris causa em vários países, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 ( o prêmio Nobel da geografia), professor em diversos países (em função do exílio político causado pela ditadura de 1964), autor de cerca de 40 livros e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entre outros.

Meu amigo, que tem memória “enciclopédica” quando o tema é futebol, jamais tinha ouvido falar de Milton Santos, e ficou surpreso ao saber que existe um gênio brasileiro desta magnitude que é simplesmente um ilustre desconhecido para a maioria da população.

Pelé, que quando tentou fazer algo mais que jogar bola, deu com os burros n água, ao tentar oferecer um gol para as criancinhas é sem duvida um gênio do entretenimento, o que não é nada de ruim ou pouco, mas o racismo cordial brasileiro ensina que negro só é bom com trabalhos manuais e o próprio negro acaba abraçando a filosofia do negro limitado. O negro precisa entender que antes de buscar entretenimento a platéia estuda, trabalha, adquire bens e conhecimentos e fazer parte apenas da parte da engrenagem que propõe espetáculo, sem ter acesso as engrenagens que fazem o mundo realmente girar só é bom para os macacos de circo. Então, ou o negro começa a buscar seu espaço onde realmente importa, organizando uma inclusão maciça do negro nos circuitos do conhecimento e da renda ou acabam como o estudante Alcides ou o Professor Milton Santos. Não vão conseguir nada além de sobras e se por acaso conseguirem, ninguém vai ficar sabendo. Melhor aceitar então o "apelido" dado aos brasileiros pelos argentinos.


Um comentário

EDUARDO ALVES disse...

Gostei muito desse texto! Parabéns!