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Fake News.



Djanira era mulher sabida. A TV só mostrava o que interessava, mas as redes sociais mostravam tudo. tu-do! nenhuma máscara resistia a verdade do povo. Acordava todo dia as 5h da manhã, nem precisava de despertador, o assovio do whats começava cedo. "Vendedora das boa",  estava em 18 grupos e conhecia todos pessoalmente, era pra mais de 400 pessoas!

Comentava sobre qualquer assunto com desenvoltura.
-Viu só? aquela vereadora lá, a sapata! era metida com o crime organizado! tava na cara, né? onde que gente de bem toma tanto tiro assim? Uma juiza de direito foi quem falou, depois a TV caiu em cima da moça. quem fala verdade merece castigo não!
E aquele lá que dizem que é herói lá em São Paulo? Menina! tem três tatuage! três! daquelas de matar policia! E as foto com sacola de dinheiro? cumé que é sem teto e tem sacola de dinheiro? usava nome falso e tudo! Só besta mermo pra acreditar no jornal! onde já se viu?

Djanira acordou animada aquele sábado. era semana de pagamento e o zap tava que tava, nem se tocou que os assovios estavam um pouco demais para o horario. tomou um belo banho cantando Alcione, coou o café, "já vou meus amores! calma que hoje Nirinha tá que tá" disse enquanto se caminhava para o celular que carregava no rack da sala.

Nem se aproximou e uma pedra quebrou o vidro da janela. ficou indignada: "tenho que mudar dessa comunidade! essa peste desse baile funk num deixa ninguém sossegado!".

Abriu a porta com um monte de palavrão na ponta da lingua, o sol saía preguiçoso, mal colocou as mãos na cintura e recebeu a primeira paulada na cabeça, as vistas escureceram e a turba raivosa não teve dó.

Se desse tempo talvez dissesse: "Que isso minha gente? sou eu, Nirinha das revistas!"

Mas sequer pode explicar que aquele menino sentado em seu colo no shopping era seu sobrinho, Gladstone, lá de Seropédica, bem mais escurinho que aquele desaparecido lá em Serra, no Espirito Santo. O que ela gostava de vender mesmo era perfume, utilidades domesticas, lingerie, estas coisas que todo mundo precisa e gosta.

Dona Assunta que vende tapioca lá na praça Seca não acreditaria nela:
-Visse esse menino? nem na vendedora de tapué dá pra acreditá mais! era tudo fachada, visse? roubava as criança pra vender os orgão pro estrangeiro! tá tudo no zap! crê em Deus pai!

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