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Negro quando não caga na entrada...

Um leitor me mandou um e-mail indignado hoje. Estão fazendo piadas racistas com a Ginasta Daiane dos Santos, maior ginasta brasileira e primeira negra a ter sucesso na modalidade elitista por estas bandas. Foto montagens toscas fazendo alusão a surrada piada de que negro quando não caga na entrada caga na saída.
Procurei pela net e não encontrei nada a respeito, mas pesquisando o nome da Ginasta nas imagens do google tem foto-montagens de péssimo gosto com a ginasta posando para a playboy e nua numa cama.

O motivo da piada
Daiane dos Santos, que está quase em fim de carreira, foi flagrada em um antidoping realizado em julho deste ano. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) divulgou que o exame da ginasta deu positivo para a substância proibida furosemida, um tipo de diurético.

O Humorista racista
Outro dia o humorista Danilo Gentili foi acusado de fazer piada racista no twitter. Ele postou o seguinte:
"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol?”.

A grita foi geral, apareceu gente de tudo quanto é canto para malhar o humorista.
"Isso foi indevido, inoportuno, de mau gosto e desrespeitoso. Desrespeitou todos os negros brasileiros e também a democracia. Democracia é você agir com responsabilidade", avalia Jose Vicente, presidente da ONG Afrobras.

Minha bagunçada origem genética
Minha família tem composição genética bem típica do miscigenado povo brasileiro. Por parte de pai tenho origem alemã (avó) e desconhecida (avô). Por parte de mãe tenho origem lusitana e mineira autóctone até onde se sabe. Meu avô paterno tinha a pele bem escura, mas os cabelos lisos. Minha avó tinha a pele claríssima, os olhos azul-esverdeados e os cabelos carapinha. Meu irmão tem a pele morena e os olhos claros, minha irmã tem a pele clara e cabelos cacheados, eu tenho a pele morena (no twitter @samukasos tem fotos, inclusive de quando eu era criança).

Se a lei áurea fosse suspensa amanhã pelo congresso iríamos todos para a senzala. Não sou um negro típico, com feições africanas, mas posso pleitear seguramente uma vaga qualquer por meio de cota racial, a despeito da cor que consta no registro de nascimento e jamais me incomodo que me tratem por negro seja em tom de piada, seja em tom formal.

Tudo isto para levantar a questão: É serio que o cumulo do racismo é a piada?
Ligue a tv um dia por semana em cada canal de tv e acompanhe toda a programação, marque um pontinho para cada branco que aparecer na tela numa folha e um pontinho para cada negro que aparecer noutra folha.

Visite o congresso nacional ou a câmara de vereadores de sua cidade e conte quantos negros e quantos brancos têm assento nestas casas.
Vá ao shopping center mais próximo e conte quantas vendedoras brancas e quantas negras existem nas lojas famosas.

Procure saber quantos prefeitos e governadores negros existem no país, quantos presidentes de empresas de grande porte, quantos médicos, quantos advogados, quantas modelos, pense qualquer carreira que você julgar admirável e faça a lista. O resultado será invariavelmente o mesmo se a carreira escolhida não for exclusivamente de cunho artesanal ou depender exclusivamente de talento pessoal.

Negro neste país é grande apenas quando é estatística. Eu sou radicalmente contra as cotas raciais por entender que no Brasil existam negros de todas as cores. As cotas só seriam aceitáveis se usassem como critério a condição social e financeira.

Mas reconheço que loirinhas de olhos azuis sempre conseguem galgar alguns degraus na pirâmide social com mais facilidade por conta da aparência socialmente aceitável e desejável.

Reza a lenda que Hitler proibia piadas sobre judeus por entender que não se pode odiar o que lhe faz rir. Eu acho que piadas como ferramenta para constrangimento é uma coisa bem inútil para o crescimento intelectual de uma sociedade, mas vamos por o dedo na ferida:

Então, enquanto nação podemos excluir os negros de tudo o que é caro à sociedade e empurrá-los para a base da sociedade (ou mesmo para a margem) desde que a raça negra não seja ridicularizada em anedotas?

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