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Assaltou joalheria e foi preso. Na cadeia não vai mais passar fome.

Ele tem dois filhos, passagem na polícia por tráfico de drogas. "Ele não tinha nem o que comer. Ele foi angariado como obreiro, mão-de-obra do crime", 
afirmou o delegado Marco Antonio Bernardino Santos, do 42º Distrito Policial

O que você é capaz de fazer para garantir que seus filhos não passem fome? Digamos que esteja sem emprego ou meios de ganhar dinheiro. Seria capaz de roubar? E de matar?
Uma joalheria famosa num shopping bacana foi assaltada e a investigação policial chegou a um suspeito por meio de uma denuncia anônima. O ideário popular ensina que um bandido que rouba uma joalheria é daquele tipo que usa jóias e roupas cafonas, carrões com som potente e musicas de gosto duvidoso. Mas o infeliz tinha apenas uma metralhadora antiga e enferrujada atrás da geladeira vazia. Não tinha sequer o que comer. Contou aos policiais em seis paginas de depoimento que foi angariado pela promessa de receber duzentos mil reais e nem chegou a entrar no shopping, ficou dando cobertura no estacionamento. Após o roubo disseram que receberia muito pouco, já que o roubo não rendera tanto como noticiava a imprensa. Apesar do sucesso na empreitada criminosa o bandido em questão ainda não recebeu um só centavo furado e provavelmente nem receba mais.

Espera-se que o cidadão de bem jamais enverede pelo crime e é louvável a atitude de gentes pobres que preferem morrer de fome a se apoderar do patrimônio alheio, mas não é por acaso que quando um gari acha dinheiro e devolve ao dono vira celebridade nos jornais.

Se levarmos em conta que a população pobre não costuma denunciar os bandidões, que bandidos não costumam passar fome e tão pouco denunciar facilmente os comparsas, podemos supor que o desgraçado personagem deste artigo não seja do ramo.

Geladeira vazia, falta de perspectivas, semi-analfabetismo, semi-indigência e uma proposta, possivelmente falsa, de correr um risco a mais para ganhar –criminosamente- uma fortuna. Quantas pessoas você conhece que, nesta situação, seguramente desconsideraria a proposta?

Que bom que a policia solucionou o crime, pelo menos em parte, muito mais rápido que costuma fazer na periferia e este pobre diabo tem mesmo que pagar pelo que fez, afinal escolheu ser criminoso. Porém é emblemático notar que o crime acenou para ele com a solução para seus problemas, que o estado deveria prover.

Virar bandido costuma ser um mal negócio, muito mais se a motivação for à privação dos bens e necessidades básicas. Vai afrontar a sociedade e geralmente morrer tão pobre como nasceu. Ocorre que pessoas com o perfil deste idiota existem aos milhares, o próprio estado trata de fabricá-los aos punhados ao deixar de fornecer educação, cultura, formação profissional e meios para que se crie uma rede de proteção social mais eficaz que um bolsa-esmola qualquer. Ao abandoná-los as próprias miséria e sorte transforma-os em presas fáceis para o álcool, às drogas ilícitas e ao apelo da criminalidade. Se o estado não promove uma alternativa, o crime organizado o faz.

É preciso que a sociedade se organize para cobrar ações estatais e se mobilize para promover uma cultura de paz, que envolve sem duvida prover meios para os mais pobres ganharem a vida e escolherem se querem ou não praticar crimes. O crime organizado faz o que pode para cooptar a mão de obra desqualificada, barata e ociosa. E você? O que você faz pela paz?

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