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O vicio e as resoluções de fim de ano.

Muita gente possui algum tipo de vicio. E quem possui, possui igualmente a vontade, diametralmente oposta ao tamanho da dependência, de abandoná-lo. É nesta época do ano, quando costumamos fingir que a vida para e recomeça, que os céus - e mares - mais se enchem de promessas do tipo "nunca mais vou...".

É esquisito. Desde pequenos aprendemos na escola que a vida tem um ciclo único: o homem nasce, cresce, faz um monte de bobagens, reproduz, envelhece e morre. Bem depois aprendemos que este homem, entre as bobagens que fez, dividiu o tempo em ciclos, tantos quantos julgou necessários, para mensurar a produtividade de qualquer bobagem que possa fazer. 

Assim convencionou que um trago ou um beijo dura alguns ciclos chamados segundos; a consolidação do vicio ( em tragos ou beijos) dura alguns ciclos chamados dias ou meses e a percepção de que fizemos bobagens e precisamos corrigi-las dura de um a diversos ciclos, conhecidos como anos.

Alguns se atrevem a estudar um pouco mais e isto é bem ruim do ponto de vista " existencial" por que o homem é, para o bem e para o mal, da estatura de seu conhecimento de forma que alguns aprendem pouco e pouco sofrem ou aspiram e outros descobrem um bocado de coisas para aspirar um tanto mais e sofrer um tanto mais e saber que sabem tão pouco que jamais saberão nada de relevante. Principalmente se seu intento é fazer que parte do ciclo único da vida se encaixe perfeitamente no ciclo do tempo. 

É inconcebível por que o ciclo da vida é obra e graça da natureza e até em suas imperfeições funciona perfeitamente ao passo que o ciclo de tempo não passa de uma bobagem que o homem criou para aprisionar se a sí próprio.

O vício é uma destas imperfeições que funcionam perfeitamente. É regido por reações químicas e psíquicas que orquestram a dependência de forma tão excelente que mesmo que o homem perceba algum maleficio é compelido e constrangido a depender de sua droga até ao custo da própria vida.

É um desgraçado o viciado! E não é outra a razão de tantas mortes no mundo senão a reação química do homem a agentes externos. Já parou para imaginar quantos mataram ou morreram por tragos - ou beijos?

A única arma eficaz contra a maioria dos vícios é o autoconhecimento. Quem bem se conhece pode medir bem sua dependência e buscar meios eficazes de se livrar dela. Quase sempre a dependência e não importa se em tragos ou beijos, não acaba nunca. O homem então precisa construir autocontrole suficiente para que, dia após dia, consiga se manter longe do agente causador.

O problema é que isto não se consegue com um brinde e uma resolução de réveillon. É uma árdua e persistente construção diária e custa sangue, suor e muitas lágrimas.

Julguei que precisava me livrar de dois vicios assim, de repente. Contra a ação da nicotina as chances de sucesso só se mantém em índices consideráveis por conta do proposito firme e da guerra declarada. Contra certos beijos a batalha é mais inglória e incerta e insana. É preciso ser guerreiro para vencer a nicotina. O diabo são os beijos. É que se e por acaso alguem já venceu esta guerra não foi menos que um Titã.

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