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De quem é esse jegue? A saga dos asininos no nordeste brasileiro.

Churrasco, jegueterapia e queijo de R$ 3 mil o Kg.



Desde que se tem noticia o jegue era o animal perfeito para os grotões do país. barato, resistente e de fácil trato. parecia reinar soberano, sobretudo no nordeste, onde sua existência carrega importante componente cultural. 

Entretanto o inimaginável nos tempos em que Genival Lacerda vociferava a música que inspira o titulo deste artigo aconteceu, com a tecnologia e os avanços econômicos criando um  paradoxo cruel e complexo. O preço baixo da motocicleta - e de sua manutenção - aliada ao crédito fácil fez explodir a frota deste veículo, cuja utilização extrapola o uso comum nos grandes centros. Aos poucos foi se tornando comum nas pequenas cidades e regiões rurais nordestinas a utilização de motos no transporte de passageiro (as vezes em número muito acima do permitido), como veículos de carga que desafiam as leis da física e até nas atividades rurais, como carregar a colheita e os insumos e tocar o gado.

O bom e soberano jegue, sempre festejado em prosa e cantado em verso, foi perdendo a utilidade. Com o passar do tempo os animais abandonados as margens das rodovias se tornaram tantos que virou um sério problema, causando inclusive boa parte dos acidentes de transito nas estradas e atacando as roças em busca de alimento.

Na Bahia a solução foi o abate. cerca de 2.000 animais chegaram a ser sacrificados pelo governo, tendo a carne convertida em ração animal. O ministério público achou a solução muito desumana e mandou acabar com ideia. 

No Rio Grande do Norte foi um promotor de justiça que lançou uma ideia de jerico: Fez e divulgou um churrasco de jumento para mostrar que o consumo da carne de jegue seria uma alternativa viável. Uns dos poucos amantes do animal ainda existentes se exaltaram e ameaçaram o homem de morte e a boataria fez o prefeito correr para a imprensa para jurar que na merenda escolar a carne era de outros bichos.  Fez ainda a OAB local divulgar um estudo muito sério atestando que o consumo humano da carne de jegue não tem apelo cultural, econômico ou social e sugeriu que os asnos fossem utilizados em passeios turísticos e em "jegueterapia", concorrendo com os equinos.

A policia rodoviária federal do Maranhão implementou um programa de convênios com as prefeituras, para que estas abrigassem, legalizassem e doassem os animais.  A ideia seria ótima se os municípios tivessem verba para tocar o projeto e poder para "desapropriar" e doar os burricos. Como não adiantasse a PRF informou em nota que agora está "espremida entre dois crimes: Ou prevarica por não recolher os animais nas rodovias ou incorre nos maus tratos por não ter estrutura adequada para abrigá-los".

Tirando uma ou outra ação isolada o Jegue de tantas tradições parecia fadado a virar praga. Do exterior vem as ultimas novidades que prometem salvar os bravos asininos nordestinos. 

No Ceará empresas exportadoras de banana utilizam os animais num sistema de tração conhecido como "cabo-via", exigência dos compradores que evita que o produto toque no chão. Investidores ingleses e franceses começaram a implementar um manejo que visa a produção de queijo tipo pule, cujo preço chega a R$ 3 mil o quilo. Como o bicho produz pouco leite e precisa alimentar a cria, deve demandar um bocado de jegue.

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